Amanhecer de sexta feira, seis de julho.
Prenúncio de sol, festa de luz, mar azul cristalino e céu de brigadeiro, em
justa exaltação à aniversariante Copacabana comemorando gloriosos cento e vinte
anos de existência. Para o anoitecer, o palco montado na faixa de areia frontal
ao legendário Copacabana Palace antecipava o clímax das homenagens ao bairro,
nas apresentações de virtuoses da bossa nova e da MPB, programa requintado para
extasiar a alma do mais depressivo poeta romântico. Pela manhã, nem o incêndio
de uma loja comercial nas imediações da Rua Figueiredo Magalhães, felizmente
debelado sem vítima, ofuscara o alto astral da Princesinha do
Mar.
Isolado o perímetro das chamas e transferido
o fluxo principal de trânsito, cedo a Avenida Atlântica sofreria renovados
congestionamentos, retardando o percurso motorizado do Posto Seis à Praia
Vermelha. Atingir sem percalços a sublime ZReu passara a exigir ágil estudo de
situação, executado graças à colaboração do inesperado dupla Art-Prec-QEM
Silvano, recém desembarcado no HT via Ponte Aérea, da ZL Vila Madalena para a
promissora celebração julina da Nação72. Sob as bênçãos da padroeira Nossa
Senhora de Copacabana, decerto vigilante na data festiva, e partidários do
Método, após análise minuciosa da missão adotamos a LAç - Desbordar pela Lagoa,
a fim de melhor alcançar e ocupar O1/CPMV - cumprindo determinação do
Presidente-General Pinpin, reiterada por telefone
no decorrer do trajeto. Enfim, por volta das quatorze e trinta abordamos o
Círculo, quase atropelando na porta de acesso interna o já retirante Motinha,
dali mesmo se apreciando o inusitado burburinho que no mezanino superior
aglomerava confrades, convidados e agregados. Ansiosa ao celular, minha filha
Clarisse cobrava o combinado almoço semanal pós-colégio na casa dos avós,
aquiescendo em aceitar as ponderações do pai impontual para adiar o compromisso
familiar.
Tremei, céticos, ateus, agnósticos,
polemistas, blasfemos de carteirinha: sem menosprezar as demais, logo pairava a
sensação de se adentrar reunião histórica, digna de tombamento na condição de
bem imaterial da amizade, tamanhos foram os significados nela estampados. A
presença honrosa de marcantes instrutores da AMAN, o bombástico mapa da força de
72, 73 em prestigioso side-car, a atmosfera agradável, a luminosidade especial
do Portal e a especial magia de animados reencontros emolduravam a
confraternização indelével. Ressalvadas iniciativas do Pinpin e confrades
vários, era como se os influxos invisíveis do destino organizassem o
reagrupamento de velhos e saudosos camaradas, reavivando indestrutíveis liames
forjados nos albor es de Resende.
A Seção de Educação Física, à frente o
ilustre Chefe, Cel Paulo Ney, acompanhando-o Cel Soeiro e Cap Israel,
demonstrava coesão até nas escolhas residenciais dos ex-integrantes, todos
coincidentemente moradores no vizinho enclave urbano da Urca. Sempre elegante e
cordial, por mim indagado se refizera contato com o Micelli, o Cel denotou
satisfação ao recordar o aristocrático morador de Nova Trento; aliás, da
conversa ocorreu-me o insight tardio de o Armandinho ter inspirado grandes
levantadores do vôlei nacional, na linha dinástica Bernardinho, Ricardinho,
Marcelinho, Bruninho e craques afins, diminutivos no nome porém superlativos nas
quadras. Comunicativo e simpático, fácil o Cel Soeiro enturmou-se nas rodas de bate-papo, onde o
Israel transitava com a desenvoltura de suas antigas transposições da escada
vertical fixa, na PPM; a bem da verdade, sua memória regredia a pormenores
comportamentais de renomados atletas da AMAN, haja vista o albatroz das
piscinas, Cleo, futuro bardo dos botecos, às vezes observado em rondas
reflexivas nos arredores da Sec Ed Fis, sublimando a árdua rotina
escolar.
Hurrah! Hurrah! Hurrah! bradava a Poderosa
através dos Cel Barroso e Cordeiro, irmãos de Arma e vizinhos do Prez Pinpa no
tradicionalíssimo feudo cajuti, o que de antemão lhes assegurava natural apreço
da Turma. O Cel Barroso, Ten Barrosinho da 2ª Cia CBas, aparentava desafiar as
marcas do tempo, preservando quase inalterado o semblante moço dos idos de
oficial subalterno; o Cel Cordeiro, do CArt, embora menos familiarizado com os
não-artilheiros da TuMMM de pronto a eles se achegou nas recordações de
vivências contemporâneas na Academia, curtindo o ambiente de saudável
congraçamento reinante no Círculo.
Do CBas, sua mais perfeita tradução, o
emblemático Cel Seixas Marques. Reverentes e descontraídos, seus cadetes
pareciam ansiosos por reencontrá-lo, rememorando causos congeladas na memória
afetiva desde a juventude longínqua. Autêntico popstar de gerações acadêmicas,
recebia afagos dos velhos subordinados em meio às demonstrações de tietagem
castrense que se estenderiam durante sua permanência além FCVN, já envolvido o
CMPV nas brumas noturnas. Promovido a confrade honorário, o ex-temido instrutor,
paciente, divertia-se ouvindo narrativas absurdamente fantásticas, como a do
Ismael anunciando à turba incrédula possuir ignorados dotes professorais,
segundo ele descobertos quando destrinchava intrincados problemas de Química I e
II ao Silvano, nos plantões das madrug adas gélidas do Conjunto Principal.
Pasmem: mais estarrecedora ainda seria a reação estranhamente conivente do audaz
ArtPrec do QEM ao confirmar, sorridente, as incríveis estripulias fantasiosas do
Bocão. Puro CMPV Fields. Forever.
Tudo serenado, confesso agora meu indizível
temor ao rever o afamado Sierra Mike. Malgrado a poeira do tempo, o inconsciente
coletivo de 72 acalentava a suposição ameaçadora de que alfarrábios do insigne
instrutor preservassem, intactos, registros de episódios e FOs relacionados a
determinados clientes preferenciais do PC/2ª Cia CBas em antológicas horas do
pato de outrora. Terríveis pesadelos ressaltavam, via de regra, a figura
onipresente do Cad 1234, à época senha cabalística do atual Sr Bac do Milênio,
ícone bad boy nos setenta, do qual se suspeitava sobreviver vasta coleção de
excentricidades e malfeitos estudantis pendentes de julgamento ou prescrição.
Aliviado, ao inolvidável personagem Bactéria, hoje sexagenário virtuoso,
pressenti generosa anistia a supos tas dívidas residuais da sua inenarrável
folha corrida no Básico; não sem motivo, ele e o distinto infante Dr Boita se
esmeraram no papel de anfitriões ao ex-instrutor, enfatizando a fidalguia da
Turma. Aliás, imaginei o notável jurista gaudério aferrado ao interessantíssimo
processo catártico de crescimento existencial deflagrado na reunião junina, no
verbalizar revelações corajosas que desnudam o âmago de suas pulsões primárias.
Aperitivo da CMPV+8 oficiosa de agosto
vindouro, longe a conferência informal superou a Rio+20 oficial. Fato inédito, o
convescote acolheu representações de diversos estados e Regiões da Federação. De
Minas Gerais, o sensacional duo JF Renatinho e Capellano, hospedado chez
Boschetti, na Barra; do glamuroso Condomínio Laranjeiras, de Serra, no Espírito
Santo, o aclamado engenheiro-arranjador-compositor LA Cordeiro Dias; da
esfuziante Paulicéia Desvairada, o Ícaro VO Toni Silvano. Da charmosa Salvador,
Bahia com H, aterrissaria o Steve McQueen soteropolitano Dom Tiziu, cuja
ausência justifica considerações à parte; no entanto, o teor singular das
circunstâncias impeditivas e o alentado prestígio pessoal do confrade
isentaram-no de culpa, deliberando-se registrar-lhe compar ecimento na rubrica
presença virtual.
Lá pelas dezessete horas, gradual debandada
do dispositivo original passou a ser notada. Enquanto alguns convivas retornavam
às bases domésticas premidos pelo rush do final de tarde, parte considerável
permanecia aguardando a chegada triunfal de Dom Tiziu, do Galeão diretamente
para os abraços da galera. Nesta altura dos acontecimentos, derrocava de ponta
meu prestígio paterno junto à Clarisse, insatisfeita com os sucessivos
descumprimentos das promessas do almoço semanal. O comitê de recepção a Cid
Precursor, transformado em comitê de vigília pela aproximação inexorável do
anoitecer foi aos pouco se esvaziando, embora às dezoito e trinta ainda
mantivesse razoável efetivo.
Á noite, o arquetípico PO do Baluarte
imemorial descortinava cenário de celestial deslumbrância, valorizado nos
reflexos resplandecentes de indescritível luar refletido nas ondas plácidas da
Praia Vermelha; a excelente sonoridade musical, ao vivo a partir das dezoito
horas, espargia brisa romântica capaz de enternecer corações de pedra, inclusive
os dos estóicos remanescentes da TuMMM na assembleia memorável: o Silvano, antes
compulsado a cumprir a suprema pena
estatutária de oscular no rosto o Boca Falador e dele suportar abobrinhas, no
mínimo durante quarenta minutos, declinou de queixas ao elogiar de forma
espontânea o castigo inaudito, que doravante propôs seja remanejado para a lista de recompensas,
emocionando e quase levando às lágrimas o hipersensível Ismael. Apoiado em coro
de vocalistas inusitado e vibrante, o Cordeirinho caitituou sua lírica versão de
Avantes Camaradas, ensaiada em performance desafinada porém entusiasta, pelo
alegre comitê de vigília. E Mestre
Tiza?... nada...
Boa música, céu estrelado, lua de tirar o
fôlego e intermináveis rodadas de chope patrocinadas pelo Silvano ajudavam a
passar despercebido o movimento dos ponteiros do relógio. Depois das sete, o NB
dos legionários da resistência ficara reduzido a cinco sobreviventes: Toni
Sapinho, Prez Pinpa, Barão Arataquinha, Lobo do Moneró e Dom Obá III. De
repente, movidos por surtos involuntários de lucidez conjugal, o imortal
maranhense de Vargem Grande e o nobre afrodescendente começaram
a manifestar leves indícios de preocupação com possíveis interpretações
beligerantes das respectivas donas encrencas, perante seus longos afastamentos
dos PC; enquanto isso, os demais comissários curtiam o momento como se não
houvesse amanhã. Conversa vai, conversa vem, espocavam foto s para o site da
Turma e... nada do Tiziu.
Ultrapassada a barreira das vinte e duas,
admitiu-se que o galã cinematográfico da Boa Terra fizera forfait, sem dúvida
devido a forte imprevisto. Sob a liderança do Prez Pinpa e do Premier
Arataquinha, a contragosto o comitê informal iniciou a retirada do CMPV. Na
Baía, do lado oposto, luzes distantes talvez alumiassem os sonhos da Brigada
Nikiti, que na reunião exibira inquestionável poder de arregimentação através do
alto percentual apresentado; em Copacabana, talvez o roteiro sonoro das
comemorações natalícias estivesse no auge; em Botafogo e Vargem Grande, talvez
maridos retardatários viessem a dever explicações convincentes às respectivas
filhas e madames. No meio dessas incertezas, a certeza da ausência de Cid
Precursor finalmente se confirma va já fora do Círculo, quando graças ao
possante celular do Barão todos conseguiram ouvir o esperado Tiziu, de Salvador
justificando o motivo da falta, plenamente aceito.
Fruto da brilhante cobertura fotográfica do
evento, coordenada pelo vascaíno Kbça, relutei no registro destas impressões,
temendo ser redundante ao pensar na consagrada assertiva “uma imagem vale mais
que mil palavras”. Peço desculpas aos ocasionais leitores se assim acontecer;
todavia, tal qual a beleza atemporal da aniversariante Copacabana, simbolizada
na classificação hoteleira do sofisticado Copacabana Palace, a reunião de seis
de julho da TuMMM/RJ representa, nos corações e mentes dos seus privilegiados
participantes, uma inesquecível jornada cinco estrelas.
Rio,
22 de julho de 2012
Cad
Cav 1039/72, Nilo.