quarta-feira, 11 de julho de 2012

DIETA

Resolvi fazer uma dieta, aliás, “resolveram” que eu ia fazer uma dieta. O peso está uns vinte e poucos quilos acima do “esteticamente” correto, a pressão e o colesterol estão meio altos, o joelho já está começando a dar sinais de fadiga e os calcanhares estão me lembrando, à toda hora, daquele salto que dei, como tenente, em uma demonstração, sem caixa de areia em baixo (o que eu só percebi na “aterrisagem”).
E cheguei à conclusão que não é por acaso que a gente vê, nas reportagens a respeito das agruras do povão brasileiro nas filas do SUS, aquelas pobres senhoras bem nutridas reclamando dos atendimentos, da falta de médicos e outros sofrimentos que o nosso povo passa no “paraíso petista”. É que pobre não pode fazer dieta.
A primeira coisa me disseram é que, para emagrecer, eu tinha procurar uma nutricionista. Tem nutricionista no SUS? No SUS mal tem médico, como é que vai ter nutricionista?
Mas procurei e achei uma, por sinal, excelente (quem quiser, é só pedir que passo o telefone). Após a anamnese, pesagem e medida do tamanho da “circunferência”, veio a primeira recomendação: “o senhor tem que comer de três em três horas”. Como é que pobre pode comer de três em três horas ?
Imaginem se o Severino pode parar, no meio do expediente, lá no décimo andar do prédio em construção e pedir para encarregado, a cada três horas: “Chefe, vou dar uma paradinha aqui na concretagem e dar descidinha pra pegar uma barrinha de cereal na marmita, por que a minha nutricionista falou que tenho que comer de três em três horas”.
A primeira reação do encarregado, sem dúvida, vai ser olhar o pobre meio de esguelha e pensar: “nutricionista, barrinha de cereal no meio da concretagem? Ih!! Sei não, o cabra pirou.” E, depois perguntar: “o que é que há, Severino, não 'tá passando bem? O café da manhã da empresa 'tava ruim? Dá pra parar a concretagem não."     
E fico imaginando o pobre do Severino, na véspera, orientando a Claudineide (filha do Seu Cláudio com a D. Neide) a montar a marmita:
- Severino: vamo lá, Neidinha, vamo organizar a marmita, que amanhã vou começá a dieta. Separa aí: duas porção de carbo....”
- Claudineide: carbo o quê, Se (“Se” é o modo carinhoso como a “Neidinha” trata o Severino)? Diabé isso?
- Severino: ah! A Dra. falou que é macarrão e pão.
- Claudineide: tá certo,  botei. Que mais?
- Severino: bota feijão e arroz, mas sem farinha. Tem uns legume colorido aí?
- Claudineide: só tem verde, couve e xuxu.
- Severino: tá certo, bota. E o que é que tem de carne ?
- Claudineide: carne tem não, vai um ovo frito?
- Severino: ih, não pode ter nada frito.
- Claudineide: então tu vai levá ele cuzido.
- Severino: a gente tem azeite extra-virgem em casa, Neidinha?
- Claudineide: olha, Se, virgem, aqui em casa, por enquanto, só a Arienne (neta do Seu Ariosvaldo e D. Marlenne, pais de Severino), que só tem onze ano, mas do jeito que ela anda se assanhando com os menino da lá boca, sei não, logo, logo tu vai sê avô. Ah, e as banana dágua, vai as duas?
- Severino: não, Neidinha, bota uma só, que só pode ter uma fruta. Eu tenho uns trocado aqui e vou passá lá na venda pra comprá umas barrinha de cereal pro lanche.
No que a Claudineide olha pra Severino meio de esguelha e pensa: “lanche, barrinha de cereal? Chiii! Que será que a dotôra fez com esse hômi?”
E vão dormir logo depois da novela, porque, no dia seguinte, tem batente. Mas Claudineide, preocupada com aquela estória de “lanche e barrinha de cereal”, dá um jeito de se mexer na cama de noite e verificar se “'tava tudo bem com Severino”. E “'tava”...

Rio de Janeiro, 19/06 /2012.
Jorge Bastos

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