Resolvi fazer uma dieta, aliás,
“resolveram” que eu ia fazer uma dieta. O peso está
uns vinte e poucos quilos acima do “esteticamente” correto, a pressão e o
colesterol estão meio altos, o joelho já está começando a dar sinais de fadiga e
os calcanhares estão me lembrando, à toda hora, daquele salto que dei, como
tenente, em uma demonstração, sem caixa de areia em baixo (o que eu só percebi
na “aterrisagem”).
E cheguei à conclusão que não é por acaso que a
gente vê, nas reportagens a respeito das agruras do povão brasileiro nas filas
do SUS, aquelas pobres senhoras bem nutridas reclamando dos atendimentos, da
falta de médicos e outros sofrimentos que o nosso povo passa no “paraíso
petista”. É que pobre não pode fazer dieta.
A primeira coisa me disseram é que, para emagrecer,
eu tinha procurar uma nutricionista. Tem nutricionista no SUS? No SUS mal tem
médico, como é que vai ter nutricionista?
Mas procurei e achei uma, por sinal, excelente
(quem quiser, é só pedir que passo o telefone). Após a anamnese, pesagem e
medida do tamanho da “circunferência”, veio a primeira recomendação: “o senhor
tem que comer de três em três horas”. Como é que pobre pode comer de três em
três horas ?
Imaginem se o Severino pode parar, no meio do
expediente, lá no décimo andar do prédio em construção e pedir para encarregado,
a cada três horas: “Chefe, vou dar uma paradinha aqui na concretagem e dar
descidinha pra pegar uma barrinha de cereal na marmita, por que a minha
nutricionista falou que tenho que comer de três em três horas”.
A primeira reação do encarregado, sem dúvida, vai
ser olhar o pobre meio de esguelha e pensar: “nutricionista, barrinha de cereal
no meio da concretagem? Ih!! Sei não, o cabra pirou.” E, depois perguntar: “o
que é que há, Severino, não 'tá passando bem? O café da manhã da empresa 'tava
ruim? Dá pra parar a concretagem não."
E fico imaginando o pobre do Severino, na véspera,
orientando a Claudineide (filha do Seu Cláudio com a D. Neide) a montar a
marmita:
- Severino: vamo lá, Neidinha, vamo organizar a
marmita, que amanhã vou começá a dieta. Separa aí:
duas porção de carbo....”
- Claudineide: carbo o quê, Se (“Se” é o modo
carinhoso como a “Neidinha” trata o Severino)? Diabé isso?
- Severino: ah! A Dra. falou que é macarrão e
pão.
- Claudineide: tá certo, botei. Que
mais?
- Severino: bota feijão e arroz, mas sem farinha.
Tem uns legume colorido aí?
- Claudineide: só tem verde, couve e
xuxu.
- Severino: tá certo, bota. E o que é que tem de
carne ?
- Claudineide: carne tem não, vai um ovo
frito?
- Severino: ih, não pode ter nada
frito.
- Claudineide: então tu vai levá ele
cuzido.
- Severino: a gente tem azeite extra-virgem em
casa, Neidinha?
- Claudineide: olha, Se, virgem, aqui em casa, por
enquanto, só a Arienne (neta do Seu Ariosvaldo e D. Marlenne, pais de Severino),
que só tem onze ano, mas do jeito que ela anda se assanhando com os menino da lá
boca, sei não, logo, logo tu vai sê avô. Ah, e as banana dágua, vai as
duas?
- Severino: não, Neidinha, bota uma só, que só pode
ter uma fruta. Eu tenho uns trocado aqui e vou passá lá na venda pra comprá umas
barrinha de cereal pro lanche.
No que a Claudineide olha pra Severino meio de
esguelha e pensa: “lanche, barrinha de cereal? Chiii! Que será que a dotôra fez
com esse hômi?”
E vão dormir logo depois da novela, porque, no dia
seguinte, tem batente. Mas Claudineide, preocupada com aquela estória de “lanche
e barrinha de cereal”, dá um jeito de se mexer na cama de noite e verificar se
“'tava tudo bem com Severino”. E “'tava”...
Rio de Janeiro, 19/06 /2012.
Jorge Bastos
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