segunda-feira, 23 de julho de 2012

UMA JORNADA CINCO ESTRELAS


     Amanhecer de sexta feira, seis de julho. Prenúncio de sol, festa de luz, mar azul cristalino e céu de brigadeiro, em justa exaltação à aniversariante Copacabana comemorando gloriosos cento e vinte anos de existência. Para o anoitecer, o palco montado na faixa de areia frontal ao legendário Copacabana Palace antecipava o clímax das homenagens ao bairro, nas apresentações de virtuoses da bossa nova e da MPB, programa requintado para extasiar a alma do mais depressivo poeta romântico. Pela manhã, nem o incêndio de uma loja comercial nas imediações da Rua Figueiredo Magalhães, felizmente debelado sem vítima, ofuscara o alto astral da Princesinha do Mar.

   Isolado o perímetro das chamas e transferido o fluxo principal de trânsito, cedo a Avenida Atlântica sofreria renovados congestionamentos, retardando o percurso motorizado do Posto Seis à Praia Vermelha. Atingir sem percalços a sublime ZReu passara a exigir ágil estudo de situação, executado graças à colaboração do inesperado dupla Art-Prec-QEM Silvano, recém desembarcado no HT via Ponte Aérea, da ZL Vila Madalena para a promissora celebração julina da Nação72. Sob as bênçãos da padroeira Nossa Senhora de Copacabana, decerto vigilante na data festiva, e partidários do Método, após análise minuciosa da missão adotamos a LAç - Desbordar pela Lagoa, a fim de melhor alcançar e ocupar O1/CPMV - cumprindo determinação do Presidente-General Pinpin,  reiterada por telefone no decorrer do trajeto. Enfim, por volta das quatorze e trinta abordamos o Círculo, quase atropelando na porta de acesso interna o já retirante Motinha, dali mesmo se apreciando o inusitado burburinho que no mezanino superior aglomerava confrades, convidados e agregados. Ansiosa ao celular, minha filha Clarisse cobrava o combinado almoço semanal pós-colégio na casa dos avós, aquiescendo em aceitar as ponderações do pai impontual para adiar o compromisso familiar.

    Tremei, céticos, ateus, agnósticos, polemistas, blasfemos de carteirinha: sem menosprezar as demais, logo pairava a sensação de se adentrar reunião histórica, digna de tombamento na condição de bem imaterial da amizade, tamanhos foram os significados nela estampados. A presença honrosa de marcantes instrutores da AMAN, o bombástico mapa da força de 72, 73 em prestigioso side-car, a atmosfera agradável, a luminosidade especial do Portal e a especial magia de animados reencontros emolduravam a confraternização indelével. Ressalvadas iniciativas do Pinpin e confrades vários, era como se os influxos invisíveis do destino organizassem o reagrupamento de velhos e saudosos camaradas, reavivando indestrutíveis liames forjados nos albor es de Resende.

   A Seção de Educação Física, à frente o ilustre Chefe, Cel Paulo Ney, acompanhando-o Cel Soeiro e Cap Israel, demonstrava coesão até nas escolhas residenciais dos ex-integrantes, todos coincidentemente moradores no vizinho enclave urbano da Urca. Sempre elegante e cordial, por mim indagado se refizera contato com o Micelli, o Cel denotou satisfação ao recordar o aristocrático morador de Nova Trento; aliás, da conversa ocorreu-me o insight tardio de o Armandinho ter inspirado grandes levantadores do vôlei nacional, na linha dinástica Bernardinho, Ricardinho, Marcelinho, Bruninho e craques afins, diminutivos no nome porém superlativos nas quadras. Comunicativo e simpático, fácil o Cel Soeiro  enturmou-se nas rodas de bate-papo, onde o Israel transitava com a desenvoltura de suas antigas transposições da escada vertical fixa, na PPM; a bem da verdade, sua memória regredia a pormenores comportamentais de renomados atletas da AMAN, haja vista o albatroz das piscinas, Cleo, futuro bardo dos botecos, às vezes observado em rondas reflexivas nos arredores da Sec Ed Fis, sublimando a árdua rotina escolar.

   Hurrah! Hurrah! Hurrah! bradava a Poderosa através dos Cel Barroso e Cordeiro, irmãos de Arma e vizinhos do Prez Pinpa no tradicionalíssimo feudo cajuti, o que de antemão lhes assegurava natural apreço da Turma. O Cel Barroso, Ten Barrosinho da 2ª Cia CBas, aparentava desafiar as marcas do tempo, preservando quase inalterado o semblante moço dos idos de oficial subalterno; o Cel Cordeiro, do CArt, embora menos familiarizado com os não-artilheiros da TuMMM de pronto a eles se achegou nas recordações de vivências contemporâneas na Academia, curtindo o ambiente de saudável congraçamento reinante no Círculo.

   Do CBas, sua mais perfeita tradução, o emblemático Cel Seixas Marques. Reverentes e descontraídos, seus cadetes pareciam ansiosos por reencontrá-lo, rememorando causos congeladas na memória afetiva desde a juventude longínqua. Autêntico popstar de gerações acadêmicas, recebia afagos dos velhos subordinados em meio às demonstrações de tietagem castrense que se estenderiam durante sua permanência além FCVN, já envolvido o CMPV nas brumas noturnas. Promovido a confrade honorário, o ex-temido instrutor, paciente, divertia-se ouvindo narrativas absurdamente fantásticas, como a do Ismael anunciando à turba incrédula possuir ignorados dotes professorais, segundo ele descobertos quando destrinchava intrincados problemas de Química I e II ao Silvano, nos plantões das madrug adas gélidas do Conjunto Principal. Pasmem: mais estarrecedora ainda seria a reação estranhamente conivente do audaz ArtPrec do QEM ao confirmar, sorridente, as incríveis estripulias fantasiosas do Bocão. Puro CMPV Fields. Forever.   

    Tudo serenado, confesso agora meu indizível temor ao rever o afamado Sierra Mike. Malgrado a poeira do tempo, o inconsciente coletivo de 72 acalentava a suposição ameaçadora de que alfarrábios do insigne instrutor preservassem, intactos, registros de episódios e FOs relacionados a determinados clientes preferenciais do PC/2ª Cia CBas em antológicas horas do pato de outrora. Terríveis pesadelos ressaltavam, via de regra, a figura onipresente do Cad 1234, à época senha cabalística do atual Sr Bac do Milênio, ícone bad boy nos setenta, do qual se suspeitava sobreviver vasta coleção de excentricidades e malfeitos estudantis pendentes de julgamento ou prescrição. Aliviado, ao inolvidável personagem Bactéria, hoje sexagenário virtuoso, pressenti generosa anistia a supos tas dívidas residuais da sua inenarrável folha corrida no Básico; não sem motivo, ele e o distinto infante Dr Boita se esmeraram no papel de anfitriões ao ex-instrutor, enfatizando a fidalguia da Turma. Aliás, imaginei o notável jurista gaudério aferrado ao interessantíssimo processo catártico de crescimento existencial deflagrado na reunião junina, no verbalizar revelações corajosas que desnudam o âmago de suas pulsões primárias.

   Aperitivo da CMPV+8 oficiosa de agosto vindouro, longe a conferência informal superou a Rio+20 oficial. Fato inédito, o convescote acolheu representações de diversos estados e Regiões da Federação. De Minas Gerais, o sensacional duo JF Renatinho e Capellano, hospedado chez Boschetti, na Barra; do glamuroso Condomínio Laranjeiras, de Serra, no Espírito Santo, o aclamado engenheiro-arranjador-compositor LA Cordeiro Dias; da esfuziante Paulicéia Desvairada, o Ícaro VO Toni Silvano. Da charmosa Salvador, Bahia com H, aterrissaria o Steve McQueen soteropolitano Dom Tiziu, cuja ausência justifica considerações à parte; no entanto, o teor singular das circunstâncias impeditivas e o alentado prestígio pessoal do confrade isentaram-no de culpa, deliberando-se registrar-lhe compar ecimento na rubrica presença virtual.  

   Lá pelas dezessete horas, gradual debandada do dispositivo original passou a ser notada. Enquanto alguns convivas retornavam às bases domésticas premidos pelo rush do final de tarde, parte considerável permanecia aguardando a chegada triunfal de Dom Tiziu, do Galeão diretamente para os abraços da galera. Nesta altura dos acontecimentos, derrocava de ponta meu prestígio paterno junto à Clarisse, insatisfeita com os sucessivos descumprimentos das promessas do almoço semanal. O comitê de recepção a Cid Precursor, transformado em comitê de vigília pela aproximação inexorável do anoitecer foi aos pouco se esvaziando, embora às dezoito e trinta ainda mantivesse razoável efetivo.

   Á noite, o arquetípico PO do Baluarte imemorial descortinava cenário de celestial deslumbrância, valorizado nos reflexos resplandecentes de indescritível luar refletido nas ondas plácidas da Praia Vermelha; a excelente sonoridade musical, ao vivo a partir das dezoito horas, espargia brisa romântica capaz de enternecer corações de pedra, inclusive os dos estóicos remanescentes da TuMMM na assembleia memorável: o Silvano, antes compulsado a cumprir a  suprema pena estatutária de oscular no rosto o Boca Falador e dele suportar abobrinhas, no mínimo durante quarenta minutos, declinou de queixas ao elogiar de forma espontânea o castigo inaudito, que doravante propôs seja  remanejado para a lista de recompensas, emocionando e quase levando às lágrimas o hipersensível Ismael. Apoiado em coro de vocalistas inusitado e vibrante, o Cordeirinho caitituou sua lírica versão de Avantes Camaradas, ensaiada em performance desafinada porém entusiasta, pelo alegre comitê de vigília. E  Mestre Tiza?... nada...
    
    Boa música, céu estrelado, lua de tirar o fôlego e intermináveis rodadas de chope patrocinadas pelo Silvano ajudavam a passar despercebido o movimento dos ponteiros do relógio. Depois das sete, o NB dos legionários da resistência ficara reduzido a cinco sobreviventes: Toni Sapinho, Prez Pinpa, Barão Arataquinha, Lobo do Moneró e Dom Obá III. De repente, movidos por surtos involuntários de lucidez conjugal, o imortal maranhense de Vargem Grande e o nobre afrodescendente começaram a manifestar  leves indícios de  preocupação com possíveis interpretações beligerantes das respectivas donas encrencas, perante seus longos afastamentos dos PC; enquanto isso, os demais comissários curtiam o momento como se não houvesse amanhã. Conversa vai, conversa vem, espocavam foto s para o site da Turma e... nada do Tiziu. 

   Ultrapassada a barreira das vinte e duas, admitiu-se que o galã cinematográfico da Boa Terra fizera forfait, sem dúvida devido a forte imprevisto. Sob a liderança do Prez Pinpa e do Premier Arataquinha, a contragosto o comitê informal iniciou a retirada do CMPV. Na Baía, do lado oposto, luzes distantes talvez alumiassem os sonhos da Brigada Nikiti, que na reunião exibira inquestionável poder de arregimentação através do alto percentual apresentado; em Copacabana, talvez o roteiro sonoro das comemorações natalícias estivesse no auge; em Botafogo e Vargem Grande, talvez maridos retardatários viessem a dever explicações convincentes às respectivas filhas e madames. No meio dessas incertezas, a certeza da ausência de Cid Precursor finalmente se confirma va já fora do Círculo, quando graças ao possante celular do Barão todos conseguiram ouvir  o esperado Tiziu, de Salvador justificando o motivo da falta, plenamente aceito.
   Fruto da brilhante cobertura fotográfica do evento, coordenada pelo vascaíno Kbça, relutei no registro destas impressões, temendo ser redundante ao pensar  na consagrada assertiva “uma imagem vale mais que mil palavras”. Peço desculpas aos ocasionais leitores se assim acontecer; todavia, tal qual a beleza atemporal da aniversariante Copacabana, simbolizada na classificação hoteleira do sofisticado Copacabana Palace, a reunião de seis de julho da TuMMM/RJ representa, nos corações e mentes dos seus privilegiados participantes, uma inesquecível jornada cinco estrelas. 

Rio, 22 de julho de 2012

Cad Cav 1039/72, Nilo.

5 comentários:

  1. Comentário de Angelo
    Preclaro Dom Obá III, sei que não houve intencional injustiça mas, citando as presenças de "gente da gente que aparece por aqui", um lapso (nunca de memória, provavelmente temporal) o fez abandonar os momentos em que nosso companheiro Mayer (veja nas fotos que veste aquele modelito típico da capital), vindo de Brasília ao IME, pode estar experimentar o radiante clima da reunião, mesmo arriscando a perda da hora de embarque de retorno para Brasília.
    Forte abraço, Angelo, KbçA

    ResponderExcluir
  2. Comentário de Lobo

    dom obá III, o pero vaz de caminha da tu MMM.

    PARABÉNS!!!!!!

    muito bacana.

    sem muitas prosopopéias, que obrigassem a socorrer-me do pai dos burros. hehehehehe.

    abçs.


    Sérgio LOBO Rodrigues (preto lobo)

    ResponderExcluir
  3. Comentário de Arataquinha

    VALEUUUUUU!!! Lindo...lindo...lindo!!!

    DOM OBÁ III...à partir de hoje você está nomeado com muitas honra “”O ESCRIBA”” da TuMMM/RJ. Narrou com muita propriedade o que foi a tarde/noite do dia 06 de julho. Sensacional..

    Abração



    Arataquinha...

    ResponderExcluir
  4. Comentário de S Pinto

    Repassando, com muita satisfação, o belíssimo texto do Nilão, Poeta V.O, sobre a nossa Reu Especial de Meia-dúzia de Julho/2012, com a presença de alguns ex-instrutores.

    Parabéns, Dom Obá III

    Forte abraço a todos e até à Reu comemorativa dos 8 ANOS desses mágicos encontros, em 03 Ago próximo. Vamos tentar superar o excelente comparecimento à Reu anterior.

    Os amigos moradores fora do Rio podem ir ajustando suas agendas. O Nilão garante vagas no HT do Forte de Copacabana, com desconto especial !

    Até lá,

    SPinto

    ResponderExcluir
  5. Comentário de Renato

    TENHO ORGULHO DE SER COMPANHEIRO DE ARMA DESSE NOBRE CAVALARIANO.

    ResponderExcluir