Roberto Silva Mascarenhas de Moraes
(*)
No dia 20/12/1962, o Marechal João Baptista Mascarenhas de
Moraes compareceu à Academia Militar das Agulhas Negras, para entregar a
espada de Oficial do Exército Brasileiro, a mim, seu neto. Após a solenidade,
na viagem para o Rio de Janeiro, ele me disse:
– Você escolheu a melhor profissão do mundo.
– Você escolheu a melhor profissão do mundo.
Eu perguntei: – Por quê?
– Porque o militar das Forças Armadas
não tem patrão. O seu patrão é o Brasil. Desta forma, nunca ninguém vai lhe
mandar passar no caixa, para acertar as contas. Por isto, você não precisa
temer em expressar suas opiniões a seus chefes. Faça-o sempre com lealdade,
mesmo que sua opinião seja contrária à do seu chefe. Às vezes, uma opinião que
contraria a do chefe vai possibilitar a melhor decisão. Vou lhe contar um fato
que ilustra muito bem esta verdade.
No retorno ao Rio de Janeiro, durante a viagem, ele me contou uma bela
história.
Getúlio Vargas, aluno da Escola Preparatória do Rio Pardo, seu colega de turma, após uma punição disciplinar: “Carregar um saco de areia nas costas durante cem metros”, normal à época, irrita-se com o tenente e acaba se desligando da Escola Preparatória do Rio Pardo.
Getúlio Vargas, aluno da Escola Preparatória do Rio Pardo, seu colega de turma, após uma punição disciplinar: “Carregar um saco de areia nas costas durante cem metros”, normal à época, irrita-se com o tenente e acaba se desligando da Escola Preparatória do Rio Pardo.
Cerca de vinte anos mais tarde, Getúlio
era o presidente e ditador. O tenente era coronel. Getúlio, em conversa com o
ministro da Guerra, à época, relata o fato ocorrido, quando cadete da Escola
Preparatória do Rio Pardo e pergunta:
– Ele era tenente, hoje deve ser
coronel.
O ministro verifica e diz:
– É o coronel Fulano.
Getúlio pergunta:
– Onde ele está servindo?
O ministro responde:
– Em Porto Alegre.
Getúlio manda transferi-lo para Manaus.
Passado algum tempo, Getúlio pergunta ao ministro da Guerra:
– O coronel já está em Manaus?
O ministro responde que sim. Getúlio
determina que o coronel seja transferido para Mato Grosso. Passado algum tempo,
Getúlio manda transferir o coronel para o Rio de Janeiro e determina que
coronel se apresente a ele.
O coronel se apresenta a Getúlio e o
presidente diz ao coronel:
– O senhor se lembra de mim?
O coronel responde:
– Não, senhor.
Getúlio diz:
– Eu sou aquele cadete que acabou
saindo da Escola Preparatória do Rio Pardo, tendo em vista o castigo físico que
o senhor me impôs.
– Presidente, eu apenas apliquei o
regulamento.
Getúlio diz:
– Eu mandei transferi-lo para o norte,
oeste e leste, para mostrar que hoje eu tenho mais poder sobre o senhor, do que
o senhor tinha sobre mim naquela época. Mas não vou mais incomodá-lo. O senhor
vai escolher um lugar para servir e eu vou mandar classificá-lo lá.
Ao que o coronel responde:
– Não, presidente. O senhor determina e
eu vou se quiser. Tenho 30 anos de serviço e posso pedir transferência para a
reserva. Sou empregado do Brasil e não do senhor, presidente.
Getúlio responde:
Getúlio responde:
– Muito bem. Então o senhor vai ser
Adido Militar em Paris.
O coronel responde:
Sim, senhor presidente.
Posteriormente Getúlio promoveu-o a
general.
Esta história reflete muito bem a
personalidade de Getúlio. Sabia reconhecer os valores.
(in: “Causos”, Crônicas e Outras... volume 10, páginas 233 e 234, Rio de Janeiro, CASABEL 2011)
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