domingo, 10 de junho de 2012

HURRAH! HURRAH! HURRAH!


Invocar a astrologia para esquadrinhar personalidades parece prática a cada dia mais frequente. Nunca se promoveu a simbologia do zodíaco a tamanha evidência e prestígio, em colunas regulares nos jornais, amplo noticiário televisivo e espaço crescente nos principais sítios eletrônicos. Ascendente, cúspide, lua, mapa astral e expressões apropriadas ao vocabulário zodiacal conquistam familiaridade entre pessoas de diferentes faixas etárias, cada qual esperançosa no descortino psicoafetivo de si e de entes próximos. Desvendar é preciso.
Surfando na onda a evocar os ilustres Artilheiros, ouso esboçar leve perfil sociológico da notória plêiade de combatentes. Saibam os leitores ocasionais destas considerações, e conclusões afins, carecerem ambas de veleidades astrais ou científicas, derivações exclusivas que são da psique deste encanecido observador da natureza humana. Infeliz, ou felizmente, não geram gabarito. Traduzem apenas meras opiniões, com o fito de nesta data magna dos seguidores de Mallet dedicar-lhes preito singelo. Perdoem-me portanto possíveis análises controversas, divagações surreais ou desatenções involuntárias, decorrentes da subjetividade inerente ao tema.
Mallet é o Artilheiro, o Artilheiro é Mallet. Na psicologia junguiana, o conceito essencial do inconsciente coletivo expressa acervo de vivências ancestrais comuns à Humanidade, latente em cada indivíduo, ombreando a herança genética parental; recorro ao célebre Dr. Jung a esposar intento inaugural de os Artilheiros, descendentes figadais de Mallet, internalizarem DNA castrense do Patrono em suas condutas, numa relação visceral de fácil comprovação.O cotejar de sua persona vs etos Artilheiro fornece pistas interessantes. Se não, vejamos.
Nascido em Dunquerque, França, em 1801, Émile Louis Mallet, futuro Barão de Itapevi, aportou no Brasil em 1818 acompanhando a família, tendo ingressado bem jovem no Exército em estruturação, a convite do próprio imperador Pedro I. Destacava-se pela figura imponente, estatura superior a dois metros e peso aproximado de cento e vinte quilos. Casado na sulista Bagé, residiu durante longos períodos na vizinha São Gabriel, entremeando os afazeres de estancieiro com a dura rotina da carreira das armas, pois legislações restritivas à sua nacionalidade de origem dela o afastavam.Tudo superou, vindo a ser consagrado herói nacional mercê desempenho estupendo em importantes refregas militares do Império, sendo merecidamente entronizado Patrono da Artilharia brasileira.
Majestoso e aristocrático era Mallet. Majestade e aristocracia, eis a Artilharia e os Artilheiros. Basta atentar ao início da Canção, “ Eu sou a poderosa Artilharia, que na luta se impõe pela metralha...”, a transparecer algo extraordinário, altivez, grandiloquência, transcendência e intimidação reverencial aos não-artilheiros. Percepção aguçada avultará certa nobreza proverbial, elegância intrínseca na imagem da Arma, refinamento se por vezes inexplicável nas circunstâncias próximas, sem dúvida compreensível no entrelaçamento sutil de pulsões junguianas ancestrais. Decodificar os caracteres primais da retumbante alma canhoneira desafia pesquisadores; de mim, nas asas de o pinativa certeza, o quanto antes vislumbro cooptações do ínclito Marechal: imponência, aristocracia, fidalguia, requinte, seriedade e classicismo. Vide a emblemática Ordem dos Velhos Artilheiros, amálgama perfeito desses traços de conservadorismo majestático; mal comparando, seria crível organismo similar dos Velhos Infantes, dos Velhos Cavalarianos, dos Velhos Engenheiros ou dos Velhos Intendentes? Óbvio que não, pois só à Artilharia se justifica tal exclusividade luxuosa.
Sinais adjacentes caracterizam a Arma dos fogos densos e profundos, neles preponderando a sólida formação profissional. Já no alvorecer do ensino militar no Brasil, materializado na pioneira Real Academia de Artilharia, Fortificações e Desenho, instalada em 1792 na famosa Casa do Trem de Artilharia, no Rio de Janeiro, a extensa grade curricular dos artilheiros superava a dos coirmãos infantes e cavalarianos. Enquanto a preparação destes limitava-se a curso trienal, a daqueles estendia-se a cinco anos, transcorridos sob o árido aprendizado de fórmulas matemáticas, projeções balísticas e complexas técnicas de tiro então usuais. Contexto idêntico preservaria correlação escolar até épocas menos remotas, consolidando a míst ica do estudante aplicado, circunspecto, racional, minucioso, de intelecto privilegiado e invejável saber funcional; excluídas visões apressadas, propícias a juízos infundados, os Artilheiros no decorrer dos tempos têm, em geral, ratificado o prestígio multissecular.
Incompletude indesculpável entretanto sofreria este arremedo de perfil, se omitisse alusão a antigos personagens da Última Ratio Regis, pelos quais dela se alevanta já inenarrável esplendor Sem eles nomear, análises em tese perfeitas seriam evasivas, desplugadas da Bateria altissonante. Longe deles, embaixadores de grupamento singular, peças ficariam desguarnecidas, linhas de fogo desprotegidas, alvos plotados inatingíveis. No esquecimento deles, a Poderosa diminuiria o troar aterrador de seus canhões, a exatidão de seus disparos e o incrível alcance dos mísseis de última geração. Sem deles recordar, talvez inspiração me ausentasse a tecer tais comentários na quietude matinal, meia dúzia horas deste dez de junho dominical.
Assim, nas individualidades do dileto brother Pimpa, presidente honorário e vitalício da Irmandade 72/ RJ; dos estimados vascaínos Sarkis, Ivan Piranha, Motinha e Salgueiro; do caro Nonato; do entusiasta e audaz skynalha Dr Peres Cobra; do Gusmão e do Meireles, de idos cepianos; do Cardosinho e do Omar, membros proeminentes da gloriosa Brigada Nikiti; dos distintos moradores da Capital Federal, Arakaki, Vírgilio e César; do gentil Facioli, na aprazível Batatais; do combativo Manoel Theophilo, na paradisíaca capital alencarina; dos discretos Vargas e Ávila, em Campo Grande; do reaparecido Régis, em Natal; do dinâmico Teixeira Gemada, em Porto Alegre, e do simpático Nestor, em Santa Maria, homenageio a imensa confraria dos Artilheiros, hoje celebrando o natalício do legendário Patrono Mallet. Sob o mais alto valor da convivência humana, a amizade, os parabenizo e aos demais Artilheiros da TuMMM, por inoportuno citá-los em sua totalidade neste curto espaço.
Privilegiado no exercício funcional pelo reiterado servir em antigos sítios da Artilharia de Costa, considero-me parte Artilheiro, sem desapossar-me da gloriosa índole cavalariana, heróica e forte até a morte. Associo-me aos festejos, descerrando a alma a vibrar e o coração a rugir, nesta data comemorativa:

HURRAH! HURRAH! HURRAH!

Rio, 10 de junho de 2012
Cadete 1039/72, Nilo, de Cavalaria. Artilheiro neste Dia.

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