Invocar a astrologia para esquadrinhar personalidades parece prática a cada dia
mais frequente. Nunca se promoveu a simbologia do zodíaco a tamanha evidência e
prestígio, em colunas regulares nos jornais, amplo noticiário televisivo e
espaço crescente nos principais sítios eletrônicos. Ascendente, cúspide, lua,
mapa astral e expressões apropriadas ao vocabulário zodiacal conquistam
familiaridade entre pessoas de diferentes faixas etárias, cada qual esperançosa
no descortino psicoafetivo de si e de entes próximos. Desvendar é
preciso.
Surfando na onda a evocar os ilustres Artilheiros, ouso esboçar leve
perfil sociológico da notória plêiade de combatentes. Saibam os leitores
ocasionais destas considerações, e conclusões afins, carecerem ambas de
veleidades astrais ou científicas, derivações exclusivas que são da psique deste
encanecido observador da natureza humana. Infeliz, ou felizmente, não geram
gabarito. Traduzem apenas meras opiniões, com o fito de nesta data magna dos
seguidores de Mallet dedicar-lhes preito singelo. Perdoem-me portanto possíveis
análises controversas, divagações surreais ou desatenções involuntárias,
decorrentes da subjetividade inerente ao tema.
Mallet é o Artilheiro, o Artilheiro é Mallet. Na psicologia junguiana, o
conceito essencial do inconsciente coletivo expressa acervo de vivências
ancestrais comuns à Humanidade, latente em cada indivíduo, ombreando a herança
genética parental; recorro ao célebre Dr. Jung a esposar intento inaugural de os
Artilheiros, descendentes figadais de Mallet, internalizarem DNA castrense do
Patrono em suas condutas, numa relação visceral de fácil comprovação.O cotejar
de sua persona vs etos Artilheiro fornece pistas interessantes. Se não,
vejamos.
Nascido em Dunquerque, França, em 1801, Émile Louis Mallet, futuro Barão
de Itapevi, aportou no Brasil em 1818 acompanhando a família, tendo ingressado
bem jovem no Exército em estruturação, a convite do próprio imperador Pedro I.
Destacava-se pela figura imponente, estatura superior a dois metros e peso
aproximado de cento e vinte quilos. Casado na sulista Bagé, residiu durante
longos períodos na vizinha São Gabriel, entremeando os afazeres de estancieiro
com a dura rotina da carreira das armas, pois legislações restritivas à sua
nacionalidade de origem dela o afastavam.Tudo superou, vindo a ser consagrado
herói nacional mercê desempenho estupendo em importantes refregas militares do
Império, sendo merecidamente entronizado Patrono da Artilharia
brasileira.
Majestoso e aristocrático era Mallet. Majestade e aristocracia, eis a
Artilharia e os Artilheiros. Basta atentar ao início da Canção, “ Eu sou a
poderosa Artilharia, que na luta se impõe pela metralha...”, a transparecer algo
extraordinário, altivez, grandiloquência, transcendência e intimidação
reverencial aos não-artilheiros. Percepção aguçada avultará certa nobreza
proverbial, elegância intrínseca na imagem da Arma, refinamento se por vezes
inexplicável nas circunstâncias próximas, sem dúvida compreensível no
entrelaçamento sutil de pulsões junguianas ancestrais. Decodificar os caracteres primais da retumbante alma
canhoneira desafia pesquisadores; de mim, nas asas de o pinativa certeza, o
quanto antes vislumbro cooptações do ínclito Marechal: imponência, aristocracia,
fidalguia, requinte, seriedade e classicismo. Vide a emblemática Ordem dos
Velhos Artilheiros, amálgama perfeito desses traços de conservadorismo
majestático; mal comparando, seria crível organismo similar dos Velhos Infantes,
dos Velhos Cavalarianos, dos Velhos Engenheiros ou dos Velhos Intendentes? Óbvio
que não, pois só à Artilharia se justifica tal exclusividade
luxuosa.
Sinais adjacentes caracterizam a Arma dos fogos densos e profundos, neles
preponderando a sólida formação profissional. Já no alvorecer do ensino militar
no Brasil, materializado na pioneira Real Academia de Artilharia, Fortificações
e Desenho, instalada em 1792 na famosa Casa do Trem de Artilharia, no Rio de
Janeiro, a extensa grade curricular dos artilheiros superava a dos coirmãos
infantes e cavalarianos. Enquanto a preparação destes limitava-se a curso
trienal, a daqueles estendia-se a cinco anos, transcorridos sob o árido
aprendizado de fórmulas matemáticas, projeções balísticas e complexas técnicas
de tiro então usuais. Contexto idêntico preservaria correlação escolar até
épocas menos remotas, consolidando a míst ica do estudante aplicado,
circunspecto, racional, minucioso, de intelecto privilegiado e invejável saber
funcional; excluídas visões apressadas, propícias a juízos infundados, os
Artilheiros no decorrer dos tempos têm, em geral, ratificado o prestígio
multissecular.
Incompletude indesculpável entretanto sofreria este arremedo de perfil,
se omitisse alusão a antigos personagens da Última Ratio Regis, pelos quais dela
se alevanta já inenarrável esplendor Sem eles nomear, análises em tese perfeitas
seriam evasivas, desplugadas da Bateria altissonante. Longe deles, embaixadores
de grupamento singular, peças ficariam desguarnecidas, linhas de fogo
desprotegidas, alvos plotados inatingíveis. No esquecimento deles, a Poderosa
diminuiria o troar aterrador de seus canhões, a exatidão de seus disparos e o
incrível alcance dos mísseis de última geração. Sem deles recordar, talvez
inspiração me ausentasse a tecer tais comentários na quietude matinal, meia
dúzia horas deste dez de junho dominical.
Assim, nas individualidades do dileto brother Pimpa, presidente honorário
e vitalício da Irmandade 72/ RJ; dos estimados vascaínos Sarkis, Ivan Piranha,
Motinha e Salgueiro; do caro Nonato; do entusiasta e audaz skynalha Dr Peres
Cobra; do Gusmão e do Meireles, de idos cepianos; do Cardosinho e do Omar,
membros proeminentes da gloriosa Brigada Nikiti; dos distintos moradores da
Capital Federal, Arakaki, Vírgilio e César; do gentil Facioli, na aprazível
Batatais; do combativo Manoel Theophilo, na paradisíaca capital alencarina; dos
discretos Vargas e Ávila, em Campo Grande; do reaparecido Régis, em Natal; do
dinâmico Teixeira Gemada, em Porto Alegre, e do simpático Nestor, em Santa
Maria, homenageio a imensa confraria dos Artilheiros, hoje celebrando o
natalício do legendário Patrono Mallet. Sob o mais alto valor da convivência
humana, a amizade, os parabenizo e aos demais Artilheiros da TuMMM, por
inoportuno citá-los em sua totalidade neste curto
espaço.
Privilegiado no exercício funcional pelo reiterado servir em antigos
sítios da Artilharia de Costa, considero-me parte Artilheiro, sem desapossar-me
da gloriosa índole cavalariana, heróica e forte até a morte. Associo-me aos
festejos, descerrando a alma a vibrar e o coração a rugir, nesta data
comemorativa:
HURRAH! HURRAH! HURRAH!
Rio, 10 de junho de 2012
Cadete 1039/72,
Nilo, de Cavalaria. Artilheiro neste Dia.
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